Gedicht
José Tolentino Mendonça
FREESIAS
Freesias are flowers that smell like teaand she, at age thirty-seven, preferred them
to the usual flowers for sale
she admitted beauty but not splendor
because repetitions are sad
they soon become wise precepts
and she, at age thirty-seven,
only cared for secrets that remained secret
even when told
(in certain periods she would sleepwalk
through some forgotten door into the yard
which bordered the woods
and sometimes they had to search for her
calling out her name or with the help of dogs
already a long way from home
she had the habit of lighting fires
she then forgot about
which is also why the villagers
feared her)
an intense and troubled child
for whom no certainties existed
she never grasped the nature of domestic life
she’d tell her most beautiful discoveries
without a second thought
to someone she didn’t know
© Translation: 2006, Richard Zenith
FRESIAS
FRESIAS
Frésias são flores com cheiro a cháe ela, aos trinta e sete anos, preferia-as
às flores que se vendem por aí
admitia a beleza mas não o esplendor
porque são tristes as repetições
num instante se tornam saberes
e ela, aos trinta e sete anos,
prezava apenas os segredos que mesmo ditos
permanecem como segredos
(em certas épocas, por alguma porta esquecida
escapava-se sonâmbula, para o pátio
que dá acesso à mata
e, por vezes, iam buscá-la
gritando o seu nome ou com a ajuda dos cães
já muito longe de casa
tinha por hábito acender fogueiras
de que, depois, se esquecia
e por isso também os aldeões
a temiam)
nunca compreendeu a natureza da vida doméstica
intensa e aflita criança
incapaz de certezas
o que de mais belo soube
sempre o disse, de repente,
a alguém que não conhecia
© 1999, José Tolentino Mendonça
From: A Noite Abre Meus Olhos
Publisher: Assírio & Alvim, Lisbon
From: A Noite Abre Meus Olhos
Publisher: Assírio & Alvim, Lisbon
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Gedichten van José Tolentino Mendonça
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FRESIAS
Frésias são flores com cheiro a cháe ela, aos trinta e sete anos, preferia-as
às flores que se vendem por aí
admitia a beleza mas não o esplendor
porque são tristes as repetições
num instante se tornam saberes
e ela, aos trinta e sete anos,
prezava apenas os segredos que mesmo ditos
permanecem como segredos
(em certas épocas, por alguma porta esquecida
escapava-se sonâmbula, para o pátio
que dá acesso à mata
e, por vezes, iam buscá-la
gritando o seu nome ou com a ajuda dos cães
já muito longe de casa
tinha por hábito acender fogueiras
de que, depois, se esquecia
e por isso também os aldeões
a temiam)
nunca compreendeu a natureza da vida doméstica
intensa e aflita criança
incapaz de certezas
o que de mais belo soube
sempre o disse, de repente,
a alguém que não conhecia
From: A Noite Abre Meus Olhos
FREESIAS
Freesias are flowers that smell like teaand she, at age thirty-seven, preferred them
to the usual flowers for sale
she admitted beauty but not splendor
because repetitions are sad
they soon become wise precepts
and she, at age thirty-seven,
only cared for secrets that remained secret
even when told
(in certain periods she would sleepwalk
through some forgotten door into the yard
which bordered the woods
and sometimes they had to search for her
calling out her name or with the help of dogs
already a long way from home
she had the habit of lighting fires
she then forgot about
which is also why the villagers
feared her)
an intense and troubled child
for whom no certainties existed
she never grasped the nature of domestic life
she’d tell her most beautiful discoveries
without a second thought
to someone she didn’t know
© 2006, Richard Zenith
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