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Gedicht

Rui Pires Cabral

OUR TURN

It’s the cold that cripples us on a winter
Sunday, when hope is at its
rarest. There are certain fixations
of consciousness, things that wander
about the house searching for their place

and, secretly they slip into a poem.
It’s envelopes from the water
company, a knife smeared with butter
on the table cloth, that trail we leave
behind us and decipher without effort
and to no advantage. It’s the wait

and the delay. It’s the streets so still
at newscast time and the clinking of
neighborhood cutlery. It’s the nighttime
aimlessness of memory: it’s the fear
of having lost, quite casually,

our turn.

A NOSSA VEZ

A NOSSA VEZ

É o frio que nos tolhe ao domingo
no Inverno, quando mais rareia
a esperança. São certas fixações
da consciência, coisas que andam
pela casa à procura de um lugar

e entram clandestinas no poema.
São os envelopes da companhia
da água, a faca suja de manteiga
na toalha, esse trilho que deixamos
atrás de nós e se decifra sem esforço
nem proveito. É a espera

e a demora. São as ruas sossegadas
à hora do telejornal e os talheres
da vizinhança a retinir. É a deriva
nocturna da memória: é o medo
de termos perdido sem querer

a nossa vez.
Rui Pires Cabral

Rui Pires Cabral

(Portugal, 1967)

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A NOSSA VEZ

É o frio que nos tolhe ao domingo
no Inverno, quando mais rareia
a esperança. São certas fixações
da consciência, coisas que andam
pela casa à procura de um lugar

e entram clandestinas no poema.
São os envelopes da companhia
da água, a faca suja de manteiga
na toalha, esse trilho que deixamos
atrás de nós e se decifra sem esforço
nem proveito. É a espera

e a demora. São as ruas sossegadas
à hora do telejornal e os talheres
da vizinhança a retinir. É a deriva
nocturna da memória: é o medo
de termos perdido sem querer

a nossa vez.

OUR TURN

It’s the cold that cripples us on a winter
Sunday, when hope is at its
rarest. There are certain fixations
of consciousness, things that wander
about the house searching for their place

and, secretly they slip into a poem.
It’s envelopes from the water
company, a knife smeared with butter
on the table cloth, that trail we leave
behind us and decipher without effort
and to no advantage. It’s the wait

and the delay. It’s the streets so still
at newscast time and the clinking of
neighborhood cutlery. It’s the nighttime
aimlessness of memory: it’s the fear
of having lost, quite casually,

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