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Gedicht

Daniel Faria

I walk a little above the ground

I walk a little above the ground
In that place where birds
Are usually hit.
A little above the birds
In the place where they usually lean forward
To take flight

I fear dead weight
Because it is a scattered nest

I am slightly above what dies
On that slope where the word is like bread
A little in the palm of the hand that breaks it
And like the silence that attends my writing I do not separate

I walk lightly above what I say
And I pour blood into my words
I walk a little above the poem’s transfusion

I walk humbly through the word’s outskirts
A passer-by one invisible step above earth
In that place of trees with fruit and trees
Engulfed by fire
I’m a little inside what burns
Slowly dwindling and feeling thirsty
Because I walk above power to satiate whoever lives
And I squeeze my heart out for what descends on me

And drinks

I walk a little above the ground

Ando um pouco acima do chão
Nesse lugar onde costumam ser atingidos
Os pássaros
Um pouco acima dos pássaros
No lugar onde costumam inclinar-se
Para o voo

Tenho medo do peso morto
Porque é um ninho desfeito

Estou ligeiramente acima do que morre
Nessa encosta onde a palavra é como pão
Um pouco na palma da mão que divide
E não separo como o silêncio em meio do que escrevo

Ando ligeiro acima do que digo
E verto o sangue para dentro das palavras
Ando um pouco acima da transfusão do poema

Ando humildemente nos arredores do verbo
Passageiro num degrau invisível sobre a terra
Nesse lugar das árvores com fruto e das árvores
No meio de incêndios
Estou um pouco no interior do que arde
Apagando-me devagar e tendo sede
Porque ando acima da força a saciar quem vive
E esmago o coração para o que desce sobre mim

E bebe
Daniel Faria

Daniel Faria

(Portugal, 1971 - 1999)

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I walk a little above the ground

Ando um pouco acima do chão
Nesse lugar onde costumam ser atingidos
Os pássaros
Um pouco acima dos pássaros
No lugar onde costumam inclinar-se
Para o voo

Tenho medo do peso morto
Porque é um ninho desfeito

Estou ligeiramente acima do que morre
Nessa encosta onde a palavra é como pão
Um pouco na palma da mão que divide
E não separo como o silêncio em meio do que escrevo

Ando ligeiro acima do que digo
E verto o sangue para dentro das palavras
Ando um pouco acima da transfusão do poema

Ando humildemente nos arredores do verbo
Passageiro num degrau invisível sobre a terra
Nesse lugar das árvores com fruto e das árvores
No meio de incêndios
Estou um pouco no interior do que arde
Apagando-me devagar e tendo sede
Porque ando acima da força a saciar quem vive
E esmago o coração para o que desce sobre mim

E bebe

I walk a little above the ground

I walk a little above the ground
In that place where birds
Are usually hit.
A little above the birds
In the place where they usually lean forward
To take flight

I fear dead weight
Because it is a scattered nest

I am slightly above what dies
On that slope where the word is like bread
A little in the palm of the hand that breaks it
And like the silence that attends my writing I do not separate

I walk lightly above what I say
And I pour blood into my words
I walk a little above the poem’s transfusion

I walk humbly through the word’s outskirts
A passer-by one invisible step above earth
In that place of trees with fruit and trees
Engulfed by fire
I’m a little inside what burns
Slowly dwindling and feeling thirsty
Because I walk above power to satiate whoever lives
And I squeeze my heart out for what descends on me

And drinks
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