Gedicht
Rui Cóias
A POSTHUMOUS SONG FOR PAUL CELAN
Where you too will come sighing in the ditches, even if yours is a famished voiceand if I see your eyes at dawn, lost over the fields, in shuddering places — I will return — «I
even on the waves of midday, along the contour of a cherry, if I see you, Margarete — I « darken — «and darken
as the hair of dark-coloured violins darkens me, as
the wind darkens in the cold woods where we die, the alleys darken
the black milk we drink and drink darkens.
Whence you too will appear with the sublime finery of misfortune, even if your blood will curdle
and if in the evening, at the magic hour, I can glimpse your eyes reading Galicia’s poems — I will return — «I
even on the trains digging a tunnel through the air, if I see you, Sulamith — I «darken — «and I darken
as the evening darkens me in the smaller hours, as
lines darken on faces, poems darken
as darkens the black milk we drink and drink.
© Translation: 2016, Ana Hudson
UMA CANÇÃO PÓSTUMA PARA PAUL CELAN
UMA CANÇÃO PÓSTUMA PARA PAUL CELAN
Onde vieres também tu a sussurrar nas valas, nem que faminta esteja a tua voze se teus olhos os vir de madrugada, perdidos pelos campos, em sítios que estremecem — eu regresso — «eu
até nas ondas do meio-dia, na linha calma das cerejas, se te vejo, Margarete — eu « escureço — «e escureço
como o cabelo com o tom escuro dos violinos me escurece, como
escurece o vento nos bosques frios em que morremos, escurecem as alamedas
escurece o leite negro que bebemos e bebemos.
Onde vieres também tu pelo adordo sublime do infortúnio, nem que franzido seja o teu sangue
e se teus lábios os vir ao entardecer, à hora mágica, lendo os poemas da Galícia — eu regresso — «eu
até nos combóios que cavam um túmulo pelos ares, se te vejo, Sulamith — eu «escureço — «e escureço
como o entardecer nas horas mais pequenas me escurece, como
escurecem as rugas pelos rostos, escurecem os poemas
escurece o leite negro que bebemos e bebemos.
© 2016, Rui Cóias
From: Europa
Publisher: Edições tinta-da-china, Lisbon
From: Europa
Publisher: Edições tinta-da-china, Lisbon
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UMA CANÇÃO PÓSTUMA PARA PAUL CELAN
Onde vieres também tu a sussurrar nas valas, nem que faminta esteja a tua voze se teus olhos os vir de madrugada, perdidos pelos campos, em sítios que estremecem — eu regresso — «eu
até nas ondas do meio-dia, na linha calma das cerejas, se te vejo, Margarete — eu « escureço — «e escureço
como o cabelo com o tom escuro dos violinos me escurece, como
escurece o vento nos bosques frios em que morremos, escurecem as alamedas
escurece o leite negro que bebemos e bebemos.
Onde vieres também tu pelo adordo sublime do infortúnio, nem que franzido seja o teu sangue
e se teus lábios os vir ao entardecer, à hora mágica, lendo os poemas da Galícia — eu regresso — «eu
até nos combóios que cavam um túmulo pelos ares, se te vejo, Sulamith — eu «escureço — «e escureço
como o entardecer nas horas mais pequenas me escurece, como
escurecem as rugas pelos rostos, escurecem os poemas
escurece o leite negro que bebemos e bebemos.
From: Europa
A POSTHUMOUS SONG FOR PAUL CELAN
Where you too will come sighing in the ditches, even if yours is a famished voiceand if I see your eyes at dawn, lost over the fields, in shuddering places — I will return — «I
even on the waves of midday, along the contour of a cherry, if I see you, Margarete — I « darken — «and darken
as the hair of dark-coloured violins darkens me, as
the wind darkens in the cold woods where we die, the alleys darken
the black milk we drink and drink darkens.
Whence you too will appear with the sublime finery of misfortune, even if your blood will curdle
and if in the evening, at the magic hour, I can glimpse your eyes reading Galicia’s poems — I will return — «I
even on the trains digging a tunnel through the air, if I see you, Sulamith — I «darken — «and I darken
as the evening darkens me in the smaller hours, as
lines darken on faces, poems darken
as darkens the black milk we drink and drink.
© 2016, Ana Hudson
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