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Gedicht

José Miguel Silva

THE BICYCLE THIEF - VITTORIO DE SICA (1948)

500 miles per day pedaled my father, from his bed
near the Douro River to the booming ceramicware
plant of Valadares. If all men, from birth,
are given some sixty enemies per hour,
imagine a life cycling to and from a factory.
One effort after another: the rosary of frost covering
clusters of broom, a newspaper battered by the wind,
the greenness of Spring, the dusty sweat on each hand.

My father, to be sure, never complains. He earns five
dollars a day and has a small house and big dreams
of gas-powered tomorrows. “At least I don’t work
in a slaughterhouse”, he thinks, and with good reason,
standing tall on the pedals of his shadowy vehicle,
a solitary cyclist climbing the slope at Avintes. He doesn’t
work in a slaughterhouse. And with that solace
he rides past the Quinta dos Frades, reaches Freixieiro,
and hears the rumble of the smoky trucks on the highway,
where the ride, at last, will be much smoother.

LADRÕES DE BICICLETAS - VITTORIO DE SICA (1948)

LADRÕES DE BICICLETAS - VITTORIO DE SICA (1948)

Mil quilómetros por dia pedalava meu pai, desde
a cama junto ao Douro até à próspera Cerâmica
de Valadares. Se qualquer homem recebe,
à nascença, uns sessenta inimigos por hora,
imaginem a jornada de um operário ciclista.
Tudo são despesas para ele: o rosário de geada
nas giestas, o jornal atropelado pelo vento, o verdor
da Primavera, a poalha do suor em cada mão.

Meu pai, é claro, não se queixa, ganha um conto
de réis, tem uma casa portuguesa e grandes sonhos
de amanhãs a gasolina. Pelo menos não trabalho
em nenhum matadouro, pensa ele, e com razão,
erguido nos pedais do seu veículo de sombra,
solitário trepador pela encosta de Avintes. Não
trabalha em nenhum matadouro. E nesse reconforto
passa à Quinta dos Frades, alcança o Freixieiro,
sente já o rumor de fumacentos camiões na nacional,
onde tudo, depois, será muito mais plano.
José Miguel Silva

José Miguel Silva

(Portugal, 1969)

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LADRÕES DE BICICLETAS - VITTORIO DE SICA (1948)

Mil quilómetros por dia pedalava meu pai, desde
a cama junto ao Douro até à próspera Cerâmica
de Valadares. Se qualquer homem recebe,
à nascença, uns sessenta inimigos por hora,
imaginem a jornada de um operário ciclista.
Tudo são despesas para ele: o rosário de geada
nas giestas, o jornal atropelado pelo vento, o verdor
da Primavera, a poalha do suor em cada mão.

Meu pai, é claro, não se queixa, ganha um conto
de réis, tem uma casa portuguesa e grandes sonhos
de amanhãs a gasolina. Pelo menos não trabalho
em nenhum matadouro, pensa ele, e com razão,
erguido nos pedais do seu veículo de sombra,
solitário trepador pela encosta de Avintes. Não
trabalha em nenhum matadouro. E nesse reconforto
passa à Quinta dos Frades, alcança o Freixieiro,
sente já o rumor de fumacentos camiões na nacional,
onde tudo, depois, será muito mais plano.

THE BICYCLE THIEF - VITTORIO DE SICA (1948)

500 miles per day pedaled my father, from his bed
near the Douro River to the booming ceramicware
plant of Valadares. If all men, from birth,
are given some sixty enemies per hour,
imagine a life cycling to and from a factory.
One effort after another: the rosary of frost covering
clusters of broom, a newspaper battered by the wind,
the greenness of Spring, the dusty sweat on each hand.

My father, to be sure, never complains. He earns five
dollars a day and has a small house and big dreams
of gas-powered tomorrows. “At least I don’t work
in a slaughterhouse”, he thinks, and with good reason,
standing tall on the pedals of his shadowy vehicle,
a solitary cyclist climbing the slope at Avintes. He doesn’t
work in a slaughterhouse. And with that solace
he rides past the Quinta dos Frades, reaches Freixieiro,
and hears the rumble of the smoky trucks on the highway,
where the ride, at last, will be much smoother.
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Lira fonds
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J.E. Jurriaanse
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Stichting Verzameling van Wijngaarden-Boot
Veerhuis
VDM
Partners
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