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Gedicht

José Miguel Silva

HERE TO STAY

When we most expect it
there’s a knock on the door:
not the postman
and not youth calling. He says
he’s family and is here to stay.

First he plays hide and seek
with our thoughts.
He wakes us up at night, rips
our slippers apart for fun,
leaves jars of formaldehyde
on the kitchen table.

At a loss for what to do, we try
to divert his hunger.
We show him our watch,
give him our wallet,
the buttons of our raincoat, our rings.
And finally our fingers.

At which point he persuades us
to call him sir and to offer him
our grandfather’s chair, the phone numbers
of our friends, the view from the window.
With head uncovered
we serve dinner.

In time we realize
he wants to dress us inside out,
to line our coat collars
with the north wind, to have us say:
“the autumn leaves are burning bright,
what am I doing at home?”

VEM PARA FICAR

VEM PARA FICAR

Acontece quando mais o esperamos:
um punho bate à porta,
não se trata do carteiro
nem da juventude. Diz-se
da família. Vem para ficar.

Começa por brincar às escondidas
com os nossos pensamentos.
Acorda-nos de noite, diverte-se
a romper as sapatilhas,
deixa frascos de formol
sobre a mesa da cozinha.

Primeiro, não sabendo o que fazer,
tentamos distrair a sua fome,
mostramos-lhe o relógio,
passamos-lhe a carteira para as mãos,
os botões da gabardine, os anéis.
Por último, os dedos.

Neste passo, depressa nos convence
a tratá-lo por senhor, a ceder-lhe num sorriso
a cadeira do avô, o telefone
dos amigos, a vista da janela.
De cabeça descoberta
servimos o jantar.

Com o tempo percebemos:
quer vestir-nos do avesso,
forrar de vento norte
a gola dos casacos, levar-nos a dizer:
“há nas folhas do Outono vivo lume,
que faço eu em minha casa?”
José Miguel Silva

José Miguel Silva

(Portugal, 1969)

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VEM PARA FICAR

Acontece quando mais o esperamos:
um punho bate à porta,
não se trata do carteiro
nem da juventude. Diz-se
da família. Vem para ficar.

Começa por brincar às escondidas
com os nossos pensamentos.
Acorda-nos de noite, diverte-se
a romper as sapatilhas,
deixa frascos de formol
sobre a mesa da cozinha.

Primeiro, não sabendo o que fazer,
tentamos distrair a sua fome,
mostramos-lhe o relógio,
passamos-lhe a carteira para as mãos,
os botões da gabardine, os anéis.
Por último, os dedos.

Neste passo, depressa nos convence
a tratá-lo por senhor, a ceder-lhe num sorriso
a cadeira do avô, o telefone
dos amigos, a vista da janela.
De cabeça descoberta
servimos o jantar.

Com o tempo percebemos:
quer vestir-nos do avesso,
forrar de vento norte
a gola dos casacos, levar-nos a dizer:
“há nas folhas do Outono vivo lume,
que faço eu em minha casa?”

HERE TO STAY

When we most expect it
there’s a knock on the door:
not the postman
and not youth calling. He says
he’s family and is here to stay.

First he plays hide and seek
with our thoughts.
He wakes us up at night, rips
our slippers apart for fun,
leaves jars of formaldehyde
on the kitchen table.

At a loss for what to do, we try
to divert his hunger.
We show him our watch,
give him our wallet,
the buttons of our raincoat, our rings.
And finally our fingers.

At which point he persuades us
to call him sir and to offer him
our grandfather’s chair, the phone numbers
of our friends, the view from the window.
With head uncovered
we serve dinner.

In time we realize
he wants to dress us inside out,
to line our coat collars
with the north wind, to have us say:
“the autumn leaves are burning bright,
what am I doing at home?”
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Prins Bernhard cultuurfonds
Lira fonds
Versopolis
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Stichting Verzameling van Wijngaarden-Boot
Veerhuis
VDM
Partners
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