Poetry International Poetry International
Gedicht

Vasco Graça Moura

a dog for pompei

rather than a pair of embracing lovers i propose
a dog from pompei. one that was no doubt
frolicking next to the forum, in search of a bone,
when friskier vesuvius caught and molded him

into pumice-stone. i insist
on seeing him as a scrawny, neglected creature
for whom poverty was a way of life. he skipped
through peristyles, a stranger to luxury, to corruption

to astrology, and no poisoned morsel ever befell him
from the triclinia, he never became
a symbolic animal or barking myth.
he was never found in any excavation, but we summon him now.

he was just a dog, un chien, who had fleas and
raised his paw like all dogs
and yelped and bit when necessary.
he lived for today and, faun of street corners, for bitches in heat.

a sign no doubt read cave canem in tiny tesserae,
making no mark in history, surviving only
in expurgated books in latin, mixed up
with the gallic wars and a few names of gods.

i sing of a dog without fable or pedigree, who didn’t escape fate,
an ordinary mutt belonging, let’s say, to pliny
the elder, who happens to have died nearby,
perhaps screaming, a few days later.

“you’re so cerebral,” said vexed and golden-haired chloe.
“yes,” i replied cautiously, “but so are a lot of other people.
and love and death have always been ponderable.”
“besides,” i added, “what harm does it do the dog?”

um cão para pompeia

um cão para pompeia

aos amantes enlaçados contraponho
um cão de pompeia, decerto ele andaria
a brincar junto ao forum, à cata de algum osso,
quando o vesúvio o caçou, mais lesto,

para moldá-lo em pedra-pomes.
insisto em vê-lo como um bicho magro e descuidado,
de penúria diuturna. passou de leve
pelos peristilos, alheio ao luxo, à corrupção,

à astrologia, e nunca dos triclínios
lhe caiu um naco envenenado, nunca se tornou
nem animal simbólico, nem mito que ganisse.
nunca foi encontrado nas escavações, mas é para aqui chamado.

era um cão, just a dog, com pulgas e
que alçava a perna como todos os cães
e ladrava e mordia quando era preciso.
fazia pela vida e, fauno das esquinas, pelas cadelas no cio.

alguma tabuleta diria cave canem em tésseras minúsculas,
sem alaridos da história, e só sobreviveu
nos livros de latim expurgados, misturada
com a guerra das gálias e alguns nomes de deuses.

eu canto um cão sem fábula nem pedigree, que não fugiu aos fados,
um rafeiro vulgar, digamos, de plínio
o velho que, a propósito, morreu perto dali,
talvez uivando, uns dias depois dele.

“você é um cerebral”, disse-me cloé, flava e enervada.
“sim”, disse-lhe eu com prudência, “mas há tantos.
e o amor e a morte sempre foram pensáveis”.
e acrescentei “e depois? que mal faz isso ao cão?”
Vasco  Graça Moura

Vasco Graça Moura

(Portugal, 1942 - 2014)

Landen

Ontdek andere dichters en gedichten uit Portugal

Gedichten Dichters

Talen

Ontdek andere dichters en gedichten in het Portugees

Gedichten Dichters
Close

um cão para pompeia

aos amantes enlaçados contraponho
um cão de pompeia, decerto ele andaria
a brincar junto ao forum, à cata de algum osso,
quando o vesúvio o caçou, mais lesto,

para moldá-lo em pedra-pomes.
insisto em vê-lo como um bicho magro e descuidado,
de penúria diuturna. passou de leve
pelos peristilos, alheio ao luxo, à corrupção,

à astrologia, e nunca dos triclínios
lhe caiu um naco envenenado, nunca se tornou
nem animal simbólico, nem mito que ganisse.
nunca foi encontrado nas escavações, mas é para aqui chamado.

era um cão, just a dog, com pulgas e
que alçava a perna como todos os cães
e ladrava e mordia quando era preciso.
fazia pela vida e, fauno das esquinas, pelas cadelas no cio.

alguma tabuleta diria cave canem em tésseras minúsculas,
sem alaridos da história, e só sobreviveu
nos livros de latim expurgados, misturada
com a guerra das gálias e alguns nomes de deuses.

eu canto um cão sem fábula nem pedigree, que não fugiu aos fados,
um rafeiro vulgar, digamos, de plínio
o velho que, a propósito, morreu perto dali,
talvez uivando, uns dias depois dele.

“você é um cerebral”, disse-me cloé, flava e enervada.
“sim”, disse-lhe eu com prudência, “mas há tantos.
e o amor e a morte sempre foram pensáveis”.
e acrescentei “e depois? que mal faz isso ao cão?”

a dog for pompei

rather than a pair of embracing lovers i propose
a dog from pompei. one that was no doubt
frolicking next to the forum, in search of a bone,
when friskier vesuvius caught and molded him

into pumice-stone. i insist
on seeing him as a scrawny, neglected creature
for whom poverty was a way of life. he skipped
through peristyles, a stranger to luxury, to corruption

to astrology, and no poisoned morsel ever befell him
from the triclinia, he never became
a symbolic animal or barking myth.
he was never found in any excavation, but we summon him now.

he was just a dog, un chien, who had fleas and
raised his paw like all dogs
and yelped and bit when necessary.
he lived for today and, faun of street corners, for bitches in heat.

a sign no doubt read cave canem in tiny tesserae,
making no mark in history, surviving only
in expurgated books in latin, mixed up
with the gallic wars and a few names of gods.

i sing of a dog without fable or pedigree, who didn’t escape fate,
an ordinary mutt belonging, let’s say, to pliny
the elder, who happens to have died nearby,
perhaps screaming, a few days later.

“you’re so cerebral,” said vexed and golden-haired chloe.
“yes,” i replied cautiously, “but so are a lot of other people.
and love and death have always been ponderable.”
“besides,” i added, “what harm does it do the dog?”
Sponsors
Gemeente Rotterdam
Nederlands Letterenfonds
Stichting Van Beuningen Peterich-fonds
Prins Bernhard cultuurfonds
Lira fonds
Versopolis
J.E. Jurriaanse
Gefinancierd door de Europese Unie
Elise Mathilde Fonds
Stichting Verzameling van Wijngaarden-Boot
Veerhuis
VDM
Partners
LantarenVenster – Verhalenhuis Belvédère