Gedicht
Herberto Helder
Fountain
IIOn the mother's mad smiles the raindrops
patter down. On their beloved
mad faces the lanterns tap
their yellow fingers.
Swaying. Pure.
Pure raindrops and lanterns. And the mothers
draw near, blowing on their cold fingers,
moving their bodies
through filial bones, tendons,
submerged organs.
And the intrinsic mothers calmly sit down
inside filial heads.
They sit there in slow and urgent silence,
seeing everything
and burning the images, fuelling the images,
while love keeps getting stronger.
Showering them in the face. Tender love.
Fierce love.
And the mothers are ever more beautiful.
Think the sons whom the mothers levitate.
Violent flowers strike their eyelids.
Above and below they breathe
in silence,
theirs faces gleaming in the spray
of raindrops,
around the lanterns. In the continuous
pourring down of sons.
Mothers are the loftiest things
created by sons, since they dwell
in their sons' deflagration, since
sons are like dandelion invaders
in their mothers' terrain.
And mothers are oil wells in the speech of their sons,
spurting through them
from out of the earth.
And the sons dive, in rubber suits, into the depths
of myriad waters
with the mothers wrapped like octopi around their hands
and around their tenderest nerves.
And the son sits with his mother at the head of the table.
Through him the mother fiddles
with the teacups and the forks,
and through her he thinks
no dead is possible, and the waters
are connected
through his hand touching the mad face
of his mother who can sense his touch
and through love, in love, until it's only possible
to love everything
and it's possible to rediscover everything through love.
© Translation: 2002, Assírio & Alvim
Translated by Richard Zenith
From: Sights from the South 1, 2002
Translated by Richard Zenith
From: Sights from the South 1, 2002
Fonte
Fonte
IINo sorriso louco das mães batem as leves
gotas de chuva. Nas amadas
caras loucas batem e batem
os dedos amarelos das candeias.
Que balouçam. Que são puras.
Gotas e candeias puras. E as mães
aproximam-se soprando os dedos frios.
Seu corpo move-se pelo meio dos ossos filiais, pelos tendões
e órgãos mergulhados,
e as calmas mães intrínsecas sentam-se
na cabeças filiais.
Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado,
vendo tudo,
e queimando as imagens, alimentando as imagens,
enquanto o amor é cada vez mais forte.
E bate-lhes nas caras, o amor leve.
O amor feroz.
E as mães são cada vez mais belas.
Pensam os filhos que elas levitam.
Flores violentas batem nas suas pálpebras.
Elas respiram ao alto e em baixo. São
silenciosas.
E a sua cara está no meio das gotas particulares
da chuva,
em volta das candeias. No contínuo
escorrer dos filhos.
As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam
na combustão dos filhos, porque
os filhos estão como invasores dentes-de-leão
no terreno das mães.
E as mães são poços de petróleo nas palavras dos filhos,
e atiram-se, através deles, como jactos
para fora da terra.
E os filhos mergulham em escafandros no interior
de muitas águas,
e trazem as mães como polvos embrulhados nas mãos
e na agudeza de toda a sua vida.
E o filho senta-se com a sua mãe à cabeceira da mesa,
e através dele a mãe mexe aqui e ali,
nas chávenas e nos garfos.
E através da mãe o filho pensa
que nenhuma morte é possível e as águas
estão ligadas entre si
por meio da mão dele que toca a cara louca
da mãe que toca a mão pressentida do filho.
E por dentro do amor, até somente ser possível
amar tudo,
e ser possível tudo ser reencontrado por dentro do amor.
© 1996, Assírio & Alvim
From: Poesia Toda, 1996
Publisher: Assírio & Alvim, Lisbon
From: Poesia Toda, 1996
Publisher: Assírio & Alvim, Lisbon
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IINo sorriso louco das mães batem as leves
gotas de chuva. Nas amadas
caras loucas batem e batem
os dedos amarelos das candeias.
Que balouçam. Que são puras.
Gotas e candeias puras. E as mães
aproximam-se soprando os dedos frios.
Seu corpo move-se pelo meio dos ossos filiais, pelos tendões
e órgãos mergulhados,
e as calmas mães intrínsecas sentam-se
na cabeças filiais.
Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado,
vendo tudo,
e queimando as imagens, alimentando as imagens,
enquanto o amor é cada vez mais forte.
E bate-lhes nas caras, o amor leve.
O amor feroz.
E as mães são cada vez mais belas.
Pensam os filhos que elas levitam.
Flores violentas batem nas suas pálpebras.
Elas respiram ao alto e em baixo. São
silenciosas.
E a sua cara está no meio das gotas particulares
da chuva,
em volta das candeias. No contínuo
escorrer dos filhos.
As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam
na combustão dos filhos, porque
os filhos estão como invasores dentes-de-leão
no terreno das mães.
E as mães são poços de petróleo nas palavras dos filhos,
e atiram-se, através deles, como jactos
para fora da terra.
E os filhos mergulham em escafandros no interior
de muitas águas,
e trazem as mães como polvos embrulhados nas mãos
e na agudeza de toda a sua vida.
E o filho senta-se com a sua mãe à cabeceira da mesa,
e através dele a mãe mexe aqui e ali,
nas chávenas e nos garfos.
E através da mãe o filho pensa
que nenhuma morte é possível e as águas
estão ligadas entre si
por meio da mão dele que toca a cara louca
da mãe que toca a mão pressentida do filho.
E por dentro do amor, até somente ser possível
amar tudo,
e ser possível tudo ser reencontrado por dentro do amor.
From: Poesia Toda, 1996
Fountain
IIOn the mother's mad smiles the raindrops
patter down. On their beloved
mad faces the lanterns tap
their yellow fingers.
Swaying. Pure.
Pure raindrops and lanterns. And the mothers
draw near, blowing on their cold fingers,
moving their bodies
through filial bones, tendons,
submerged organs.
And the intrinsic mothers calmly sit down
inside filial heads.
They sit there in slow and urgent silence,
seeing everything
and burning the images, fuelling the images,
while love keeps getting stronger.
Showering them in the face. Tender love.
Fierce love.
And the mothers are ever more beautiful.
Think the sons whom the mothers levitate.
Violent flowers strike their eyelids.
Above and below they breathe
in silence,
theirs faces gleaming in the spray
of raindrops,
around the lanterns. In the continuous
pourring down of sons.
Mothers are the loftiest things
created by sons, since they dwell
in their sons' deflagration, since
sons are like dandelion invaders
in their mothers' terrain.
And mothers are oil wells in the speech of their sons,
spurting through them
from out of the earth.
And the sons dive, in rubber suits, into the depths
of myriad waters
with the mothers wrapped like octopi around their hands
and around their tenderest nerves.
And the son sits with his mother at the head of the table.
Through him the mother fiddles
with the teacups and the forks,
and through her he thinks
no dead is possible, and the waters
are connected
through his hand touching the mad face
of his mother who can sense his touch
and through love, in love, until it's only possible
to love everything
and it's possible to rediscover everything through love.
© 2002, Assírio & Alvim
Translated by Richard Zenith
From: Sights from the South 1, 2002
Translated by Richard Zenith
From: Sights from the South 1, 2002
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