Poetry International Poetry International
Gedicht

Camilo Pessanha

WHITE AND CRIMSON

The sharp and sudden pain
That stings me all of sudden,                     
Appeared as a sudden flash,
Of dazzling, dizzying white,                    
Deranging what I saw,            
Costing me my vision,        
Causing all in view to flee,
In a gentle fading away.            

It surrounded me
Like a vast desert,
A vast, white desert,
Vast and resplendent.
My whole being suspended,            
I do not feel, I do not think,            
I hover, suspended in the light....        
What endless pleasure!        

In the flood of light
Bathing every corner of sky,        
In the ecstasy of light,                
I watch an endless caravan.    
Poor naked bodies,    
Reduced in the distance,        
Reduced and diminished            
In the depths of my pupils!     
 
On the vast plain of sand    
On the distant horizon
Looms the unending caravan    
Of immense human suffering,   
Eminent human suffering,        
Useless human suffering —           
Advancing with bowed heads!        

Bowed to the ground,                
Bowed and exhausted,                
Bowed in a single file,
March their thin figures.                
Condemned slaves
Outlined in the sunset,        
Outlines of black silhouettes:  
Thin, wretched and vile.    

Those who tremble out of fear
Tremble at every blow,        
And I feel my eyelids tremble
Whenever the whip snaps.        
Crack! They only moan,
Drawn and pale they moan,
Moan with every crack
That knocks them down.            

Under the whip they fall,
With every stroke they fall,
Rise back up, then fall,
Still struggle up, in fear,
Until at last they pass out,     
Finally they’ve passed out!   
Look at them, now fainted,
Their pain now defeated…        


May they lie there, peaceful,   
On their backs and peaceful,    
And may the light caress    
Their broad and peaceful brows,     
O clear and calm skies,
Sweet calm gardens,
Where the suffering is less,            
Where souls can rest!    

The pain, a vast desert,            
A vast, white desert,
Vast and resplendent,
Appeared as a sudden flash.
My whole being suspended,
I do not feel, I do not think,
I hover in the light, suspended
In a gentle fading away.

Come swiftly, O Death,
Awake and come swiftly,    
Come swiftly to my aid,    
Come and wipe my sweat,      
For the agony has begun.        
It’s time to fulfill your promise.    
Soon the dream commences…    
All a blossoming in crimson…

BRANCO E VERMELHO

BRANCO E VERMELHO

A dor, forte e imprevista,
Ferindo-me, imprevista,
De branca e de imprevista
Foi um deslumbramento,
Que me endoidou a vista,
Fez-me perder a vista,
Fez-me fugir a vista,
Num doce esvaimento.

Como um deserto imenso,
Branco deserto imenso,
Resplandecente e imenso,
Fez-se em redor de mim.
Todo o meu ser suspenso,
Não sinto já, não penso,
Pairo na luz, suspenso…
Que delícia sem fim!

Na inundação da luz
Banhando os céus a flux,
No êxtase da luz,
Vejo passar, desfila
(Seus pobres corpos nus
Que a distancia reduz,
Amesquinha e reduz
No fundo da pupila)

Na areia imensa e plana,
Ao longe, a caravana
Sem fim, a caravana
Na linha do horizonte,
Da enorme dor humana,
Da insigne dor humana...  
A inútil dor humana!
Marcha, curvada a fronte.

Até o chão, curvados,
Exaustos e curvados,
Vão um a um, curvados,
Os seus magros perfis;
Escravos condenados,
No poente recortados,
Em negro recortados,
Magros, mesquinhos, vis.

A cada golpe tremem
Os que de medo tremem,
E as pálpebras me tremem
Quando o açoite vibra.
Estala! e apenas gemem,
Pavidamente gemem,
A cada golpe gemem,
Que os desequilibra.

Sob o açoite caem,
A cada golpe caem,
Erguem-se logo. Caem,
Soergue-os o terror...
Até que enfim desmaiem,
Por uma vez desmaiem!
Ei-los que enfim se esvaem
Vencida, enfim, a dor...

E ali fiquem serenos,
De costas e serenos...
Beije-os a luz, serenos,
Nas amplas frontes calmas
Ó céus claros e amenos,
Doces jardins amenos,
Onde se sofre menos,
Onde dormem as almas!

A dor, deserto imenso,
Branco deserto imenso,
Resplandecente e imenso,
Foi um deslumbramento.
Todo o meu ser suspenso,
Não sinto já, não penso,
Pairo na luz, suspenso
Num doce esvaimento.

Ó morte, vem depressa,
Acorda, vem depressa,
Acode-me depressa,
Vem-me enxugar o suor,
Que o estertor começa.
É cumprir a promessa.
Já o sonho começa...
Tudo vermelho em flor...
Camilo Pessanha

Camilo Pessanha

(Portugal, 1867 - 1926)

Landen

Ontdek andere dichters en gedichten uit Portugal

Gedichten Dichters

Talen

Ontdek andere dichters en gedichten in het Portugees

Gedichten Dichters
Close

BRANCO E VERMELHO

A dor, forte e imprevista,
Ferindo-me, imprevista,
De branca e de imprevista
Foi um deslumbramento,
Que me endoidou a vista,
Fez-me perder a vista,
Fez-me fugir a vista,
Num doce esvaimento.

Como um deserto imenso,
Branco deserto imenso,
Resplandecente e imenso,
Fez-se em redor de mim.
Todo o meu ser suspenso,
Não sinto já, não penso,
Pairo na luz, suspenso…
Que delícia sem fim!

Na inundação da luz
Banhando os céus a flux,
No êxtase da luz,
Vejo passar, desfila
(Seus pobres corpos nus
Que a distancia reduz,
Amesquinha e reduz
No fundo da pupila)

Na areia imensa e plana,
Ao longe, a caravana
Sem fim, a caravana
Na linha do horizonte,
Da enorme dor humana,
Da insigne dor humana...  
A inútil dor humana!
Marcha, curvada a fronte.

Até o chão, curvados,
Exaustos e curvados,
Vão um a um, curvados,
Os seus magros perfis;
Escravos condenados,
No poente recortados,
Em negro recortados,
Magros, mesquinhos, vis.

A cada golpe tremem
Os que de medo tremem,
E as pálpebras me tremem
Quando o açoite vibra.
Estala! e apenas gemem,
Pavidamente gemem,
A cada golpe gemem,
Que os desequilibra.

Sob o açoite caem,
A cada golpe caem,
Erguem-se logo. Caem,
Soergue-os o terror...
Até que enfim desmaiem,
Por uma vez desmaiem!
Ei-los que enfim se esvaem
Vencida, enfim, a dor...

E ali fiquem serenos,
De costas e serenos...
Beije-os a luz, serenos,
Nas amplas frontes calmas
Ó céus claros e amenos,
Doces jardins amenos,
Onde se sofre menos,
Onde dormem as almas!

A dor, deserto imenso,
Branco deserto imenso,
Resplandecente e imenso,
Foi um deslumbramento.
Todo o meu ser suspenso,
Não sinto já, não penso,
Pairo na luz, suspenso
Num doce esvaimento.

Ó morte, vem depressa,
Acorda, vem depressa,
Acode-me depressa,
Vem-me enxugar o suor,
Que o estertor começa.
É cumprir a promessa.
Já o sonho começa...
Tudo vermelho em flor...

WHITE AND CRIMSON

The sharp and sudden pain
That stings me all of sudden,                     
Appeared as a sudden flash,
Of dazzling, dizzying white,                    
Deranging what I saw,            
Costing me my vision,        
Causing all in view to flee,
In a gentle fading away.            

It surrounded me
Like a vast desert,
A vast, white desert,
Vast and resplendent.
My whole being suspended,            
I do not feel, I do not think,            
I hover, suspended in the light....        
What endless pleasure!        

In the flood of light
Bathing every corner of sky,        
In the ecstasy of light,                
I watch an endless caravan.    
Poor naked bodies,    
Reduced in the distance,        
Reduced and diminished            
In the depths of my pupils!     
 
On the vast plain of sand    
On the distant horizon
Looms the unending caravan    
Of immense human suffering,   
Eminent human suffering,        
Useless human suffering —           
Advancing with bowed heads!        

Bowed to the ground,                
Bowed and exhausted,                
Bowed in a single file,
March their thin figures.                
Condemned slaves
Outlined in the sunset,        
Outlines of black silhouettes:  
Thin, wretched and vile.    

Those who tremble out of fear
Tremble at every blow,        
And I feel my eyelids tremble
Whenever the whip snaps.        
Crack! They only moan,
Drawn and pale they moan,
Moan with every crack
That knocks them down.            

Under the whip they fall,
With every stroke they fall,
Rise back up, then fall,
Still struggle up, in fear,
Until at last they pass out,     
Finally they’ve passed out!   
Look at them, now fainted,
Their pain now defeated…        


May they lie there, peaceful,   
On their backs and peaceful,    
And may the light caress    
Their broad and peaceful brows,     
O clear and calm skies,
Sweet calm gardens,
Where the suffering is less,            
Where souls can rest!    

The pain, a vast desert,            
A vast, white desert,
Vast and resplendent,
Appeared as a sudden flash.
My whole being suspended,
I do not feel, I do not think,
I hover in the light, suspended
In a gentle fading away.

Come swiftly, O Death,
Awake and come swiftly,    
Come swiftly to my aid,    
Come and wipe my sweat,      
For the agony has begun.        
It’s time to fulfill your promise.    
Soon the dream commences…    
All a blossoming in crimson…
Sponsors
Gemeente Rotterdam
Nederlands Letterenfonds
Stichting Van Beuningen Peterich-fonds
Prins Bernhard cultuurfonds
Lira fonds
Versopolis
J.E. Jurriaanse
Gefinancierd door de Europese Unie
Elise Mathilde Fonds
Stichting Verzameling van Wijngaarden-Boot
Veerhuis
VDM
Partners
LantarenVenster – Verhalenhuis Belvédère