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Gedicht

Camilo Pessanha

In the end, it’s better

In the end, it’s better        
Not to hear or see…
To feel no pain at all
As all passes over me!  

Inwardly smiling,      
Eyelids closed,    
At the floodwaters
Off in the distance.               

Brawls, tussles, feuds,
All doing me no harm…    
Now a stranger to useless labor,             
To the changing seasons.        

Summer passes, then autumn,
Shearing, ploughing, hoeing—
While I sleep soundly,        
Underneath a rock.          
Better still if fortune
Reserves a bed for me        
In a wide meadow,           
Just beneath the grass            

That April generously soaks…                  
And a band of horses
To pummel me now and then
With their gallant trotting.

Or on the scrubby hills      
Where skirmishes play out,
Where worthless life
Assents to the sacrifice  

Of the living, bitter deaths
Sweeping down the ravine,
To the crack of gunshot
And the clang of swords…  

Or even beneath
The mean, grubby streets
Where the frightful throng            
Erupts in a tumult…

Loudly jostling
In savage conflict,            
Feral gleams in their eyes,     
Leaping and shouting!        

Thievery and murder!
Never a moment of peace
As jawbones shatter
In scrappy fistfights…

And I, so very still
Beneath the tamped earth,        
Laughing so hard
Because it doesn’t hurt.                    

Porque o melhor, enfim

Porque o melhor, enfim,
É não ouvir nem ver…  
Passarem sobre mim
E nada me doer!

— Sorrindo interiormente,
Co’as pálpebras cerradas,
Às águas da torrente
Já tão longe passadas. —

Rixas, tumultos, lutas,
Não me fazerem dano...  
Alheio às vãs labutas,
Às estações do ano.

Passar o estio, o outono,
A poda, a cava, e a redra,
E eu dormindo um sono
Debaixo duma pedra.

Melhor até se o acaso
O leito me reserva
No prado extenso e raso
Apenas sob a erva

Que Abril copioso ensope…
E, esbelto, a intervalos
Fustigue-me o galope
De bandos de cavalos.

Ou no serrano mato,
A brigas tão propício,
Onde o viver ingrato
Dispõe ao sacrifício

Das vidas, mortes duras
Ruam pelas quebradas,
Com choques de armaduras
E tinidos de espadas…

Ou sob o piso, até,
Infame e vil da rua,
Onde a torva ralé
Irrompe, tumultua,

Se estorce, vocifera,
Selvagem nos conflitos,
Com ímpetos de fera
Nos olhos, saltos, gritos…

Roubos, assassinatos!
Horas jamais tranquilas,
Em brutos pugilatos
Fraturam-se as maxilas...

E eu sob a terra firme,
Compacta, recalcada,
Muito quietinho. A rir-me
De não me doer nada.
Camilo Pessanha

Camilo Pessanha

(Portugal, 1867 - 1926)

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Porque o melhor, enfim

Porque o melhor, enfim,
É não ouvir nem ver…  
Passarem sobre mim
E nada me doer!

— Sorrindo interiormente,
Co’as pálpebras cerradas,
Às águas da torrente
Já tão longe passadas. —

Rixas, tumultos, lutas,
Não me fazerem dano...  
Alheio às vãs labutas,
Às estações do ano.

Passar o estio, o outono,
A poda, a cava, e a redra,
E eu dormindo um sono
Debaixo duma pedra.

Melhor até se o acaso
O leito me reserva
No prado extenso e raso
Apenas sob a erva

Que Abril copioso ensope…
E, esbelto, a intervalos
Fustigue-me o galope
De bandos de cavalos.

Ou no serrano mato,
A brigas tão propício,
Onde o viver ingrato
Dispõe ao sacrifício

Das vidas, mortes duras
Ruam pelas quebradas,
Com choques de armaduras
E tinidos de espadas…

Ou sob o piso, até,
Infame e vil da rua,
Onde a torva ralé
Irrompe, tumultua,

Se estorce, vocifera,
Selvagem nos conflitos,
Com ímpetos de fera
Nos olhos, saltos, gritos…

Roubos, assassinatos!
Horas jamais tranquilas,
Em brutos pugilatos
Fraturam-se as maxilas...

E eu sob a terra firme,
Compacta, recalcada,
Muito quietinho. A rir-me
De não me doer nada.

In the end, it’s better

In the end, it’s better        
Not to hear or see…
To feel no pain at all
As all passes over me!  

Inwardly smiling,      
Eyelids closed,    
At the floodwaters
Off in the distance.               

Brawls, tussles, feuds,
All doing me no harm…    
Now a stranger to useless labor,             
To the changing seasons.        

Summer passes, then autumn,
Shearing, ploughing, hoeing—
While I sleep soundly,        
Underneath a rock.          
Better still if fortune
Reserves a bed for me        
In a wide meadow,           
Just beneath the grass            

That April generously soaks…                  
And a band of horses
To pummel me now and then
With their gallant trotting.

Or on the scrubby hills      
Where skirmishes play out,
Where worthless life
Assents to the sacrifice  

Of the living, bitter deaths
Sweeping down the ravine,
To the crack of gunshot
And the clang of swords…  

Or even beneath
The mean, grubby streets
Where the frightful throng            
Erupts in a tumult…

Loudly jostling
In savage conflict,            
Feral gleams in their eyes,     
Leaping and shouting!        

Thievery and murder!
Never a moment of peace
As jawbones shatter
In scrappy fistfights…

And I, so very still
Beneath the tamped earth,        
Laughing so hard
Because it doesn’t hurt.                    
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