Gedicht
Nuno Júdice
Homage to St John of the Cross
When I plucked the fruit from those branchesthat had never given shade, night fell
quickly, with no sunset or twilight – a night
already present in each fruit
and thicker each time my lips
touched their acid skin. What night
was in progress? Surely not the bleak night
of weeping and song, nor the compassionate
night that precedes dawn, nor even
that singular night of dream and insomnia, confounded
in the hypnotic conduct of bodies ruled
by love’s torpor. A night without end, since
it had no beginning, definitive in its blind
stare, a reflection without memory that names
what had been nameless, and from the names
takes substance – this night runs
through the middle of me, between who I am
and who I think I am, preventing me from seeing either
of the sides I occupy. A night that fell, therefore,
where it had always been: a beloved, desired,
rejected repetition of what I describe
whenever I write – the fire I call
but do not see in that dark desire.
© Translation: 1997, Richard Zenith
Homenagem a S. João da Cruz
Homenagem a S. João da Cruz
Quando colhi os frutos daqueles ramosque nunca deram sombra, a noite desceu
depressa, sem poente nem crepúsculo: a noite
que já estava dentro de cada fruto
e se fazia mais espessa de cada vez que os meus lábios
tocavam a ácida casca. Que noite
começou então? Não foi, sem dúvida, a noite
áspera do choro e do canto; nem a noite piedosa
que antecede a madrugada; nem sequer
a noite única do sonho e da insónia, confundindo-se
no curso sonâmbulo dos corpos que o torpor amante
contamina. Noite sem fim – porque
não teve um princípio – e definitiva no olhar
cego de um reflexo sem memória: dando
o nome às coisas que nunca o tiveram; e roubando
substância a esses nomes – essa noite
anda pelo meio de mim, entre quem sou
e quem julgo ser, impedindo-me de ver cada um
dos lados em que estou. Noite, então,
que caiu onde sempre esteve: amada, desejada,
repudiada repetição do que escrevo
quando escrevo – chamando, apenas,
a chama que não vejo nesse obscuro desejo.
© 1994, Nuno Júdice
From: Meditação sobre ruínas
Publisher: Quetzal, Lisboa
From: Meditação sobre ruínas
Publisher: Quetzal, Lisboa
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Gedichten van Nuno Júdice
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Homenagem a S. João da Cruz
Quando colhi os frutos daqueles ramosque nunca deram sombra, a noite desceu
depressa, sem poente nem crepúsculo: a noite
que já estava dentro de cada fruto
e se fazia mais espessa de cada vez que os meus lábios
tocavam a ácida casca. Que noite
começou então? Não foi, sem dúvida, a noite
áspera do choro e do canto; nem a noite piedosa
que antecede a madrugada; nem sequer
a noite única do sonho e da insónia, confundindo-se
no curso sonâmbulo dos corpos que o torpor amante
contamina. Noite sem fim – porque
não teve um princípio – e definitiva no olhar
cego de um reflexo sem memória: dando
o nome às coisas que nunca o tiveram; e roubando
substância a esses nomes – essa noite
anda pelo meio de mim, entre quem sou
e quem julgo ser, impedindo-me de ver cada um
dos lados em que estou. Noite, então,
que caiu onde sempre esteve: amada, desejada,
repudiada repetição do que escrevo
quando escrevo – chamando, apenas,
a chama que não vejo nesse obscuro desejo.
From: Meditação sobre ruínas
Homage to St John of the Cross
When I plucked the fruit from those branchesthat had never given shade, night fell
quickly, with no sunset or twilight – a night
already present in each fruit
and thicker each time my lips
touched their acid skin. What night
was in progress? Surely not the bleak night
of weeping and song, nor the compassionate
night that precedes dawn, nor even
that singular night of dream and insomnia, confounded
in the hypnotic conduct of bodies ruled
by love’s torpor. A night without end, since
it had no beginning, definitive in its blind
stare, a reflection without memory that names
what had been nameless, and from the names
takes substance – this night runs
through the middle of me, between who I am
and who I think I am, preventing me from seeing either
of the sides I occupy. A night that fell, therefore,
where it had always been: a beloved, desired,
rejected repetition of what I describe
whenever I write – the fire I call
but do not see in that dark desire.
© 1997, Richard Zenith
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