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Gedicht

Nuno Júdice

Archaeology

I look at the mould of men who were content
to have an outline of the divine. With the winds
and tides it has dissolved, freeing itself
from the ephemeral alchemy of hands, sharing
in the secret of cyclical movements, random
changes, decisions written in a star’s path.

I pick up the figure that seemed lost. A
quick glance with the flutter of butterfly wings
in the afternoon’s cremation . . .  I seek
its abyss, a well’s black depth staring back
with no surface reflection, and I find its restless
emptiness in a silence of mirrors.

Although they say a reproduction can never have
the luster of the original, this image offers
a taste of dead things: the light of dawn, the gold
of an ocean horizon, the foggy breath of early
morning. I linger with them, content
to feel their slow corruption in the soul’s roots.

Arqueologia

Arqueologia

Aqui, o molde dos que se limitaram a
um contorno do divino – desfaz-se com os
ventos e as marés. Libertou-se da alquimia
efémera das mãos; e comunga o segredo
dos movimentos cíclicos, das mudanças de acaso,
das decisões inscritas num rumo de astro.

Tiro a figura que parecia perdida. Um
olhar breve com o bater de asas da borboleta
na incineração da tarde . . .  Procuro o seu dom
de abismo, um fundo negro de poço que me fixa
sem o reflexo da superfície: e encontro o seu vazio
inquieto num silêncio de espelho.

Embora se diga que uma reprodução não terá
nunca o fulgor do original, esta imagem dá-me um
sabor de coisas mortas: a luz nascente, o ouro
de um horizonte marítimo, o fumo húmido da respiração
matinal. Deixo-me estar com elas; e limito-me
a sentir a sua lenta corrupção nas raízes da alma.
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Arqueologia

Aqui, o molde dos que se limitaram a
um contorno do divino – desfaz-se com os
ventos e as marés. Libertou-se da alquimia
efémera das mãos; e comunga o segredo
dos movimentos cíclicos, das mudanças de acaso,
das decisões inscritas num rumo de astro.

Tiro a figura que parecia perdida. Um
olhar breve com o bater de asas da borboleta
na incineração da tarde . . .  Procuro o seu dom
de abismo, um fundo negro de poço que me fixa
sem o reflexo da superfície: e encontro o seu vazio
inquieto num silêncio de espelho.

Embora se diga que uma reprodução não terá
nunca o fulgor do original, esta imagem dá-me um
sabor de coisas mortas: a luz nascente, o ouro
de um horizonte marítimo, o fumo húmido da respiração
matinal. Deixo-me estar com elas; e limito-me
a sentir a sua lenta corrupção nas raízes da alma.

Archaeology

I look at the mould of men who were content
to have an outline of the divine. With the winds
and tides it has dissolved, freeing itself
from the ephemeral alchemy of hands, sharing
in the secret of cyclical movements, random
changes, decisions written in a star’s path.

I pick up the figure that seemed lost. A
quick glance with the flutter of butterfly wings
in the afternoon’s cremation . . .  I seek
its abyss, a well’s black depth staring back
with no surface reflection, and I find its restless
emptiness in a silence of mirrors.

Although they say a reproduction can never have
the luster of the original, this image offers
a taste of dead things: the light of dawn, the gold
of an ocean horizon, the foggy breath of early
morning. I linger with them, content
to feel their slow corruption in the soul’s roots.
Sponsors
Gemeente Rotterdam
Nederlands Letterenfonds
Stichting Van Beuningen Peterich-fonds
Prins Bernhard cultuurfonds
Lira fonds
Versopolis
J.E. Jurriaanse
Gefinancierd door de Europese Unie
Elise Mathilde Fonds
Stichting Verzameling van Wijngaarden-Boot
Veerhuis
VDM
Partners
LantarenVenster – Verhalenhuis Belvédère