Gedicht
Adília Lopes
Childhood Memories
We loved raspberry compoteand we were given a dish with more raspberry compote
than usual
but
our maid and our great-aunt
for our own good
because we were sick
had laced the raspberry compote
with spoonfuls of medicine
that tasted bad
the raspberry compote didn’t taste the same
and it had white streaks
this happened to us once and that was enough
we never again jumped up and down when there was
raspberry compote for dessert
we never again jumped up and down for anything
we can’t say
how yucky the medicine from our childhood tasted!
how yummy the raspberry compote from our childhood was!
when we found out about the mixture
of raspberry compote with the medicine
we fell silent
later we heard about entropy
we learned that it’s not easy to separate
raspberry compote from medicine once they’re mixed together
that’s how it is in books
that’s how it is in childhood
and books are like childhood
which is like Catrina’s little doves
one is mine
another is yours
yet another is someone else’s
© Translation: 2005, Richard Zenith
Memórias das infâncias
Memórias das infâncias
Gostávamos muito de doce de framboesae deram-nos um prato com mais doce de framboesa
do que era costume
mas
a nossa criada a nossa tia-avó no doce de framboesa
para nosso bem
porque estávamos doentes
esconderam colheres do remédio
que sabia mal
o doce de framboesa não sabia à mesma coisa
e tinha fiapos brancos
isso aconteceu-nos uma vez e chegou
nunca mais demos pulos por ir haver
doce de framboesa à sobremesa
nunca mais demos pulos nenhuns
não podemos dizer
como o remédio da nossa infância sabia mal!
como era doce o doce de framboesa da nossa infância!
ao descobrir a mistura
do doce de framboesa com o remédio
ficámos calados
depois ouvimos falar da entropia
aprendemos que não se separa de graça
o doce de framboesa do remédio misturados
é assim nos livros
é assim nas infâncias
e os livros são como as infâncias
que são como as pombinhas da Catrina
uma é minha
outra é tua
outra é doutra pessoa
© 1988, Adília Lopes
From: Obra
Publisher: Mariposa Azual, Lisbon
From: Obra
Publisher: Mariposa Azual, Lisbon
Gedichten
Gedichten van Adília Lopes
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Memórias das infâncias
Gostávamos muito de doce de framboesae deram-nos um prato com mais doce de framboesa
do que era costume
mas
a nossa criada a nossa tia-avó no doce de framboesa
para nosso bem
porque estávamos doentes
esconderam colheres do remédio
que sabia mal
o doce de framboesa não sabia à mesma coisa
e tinha fiapos brancos
isso aconteceu-nos uma vez e chegou
nunca mais demos pulos por ir haver
doce de framboesa à sobremesa
nunca mais demos pulos nenhuns
não podemos dizer
como o remédio da nossa infância sabia mal!
como era doce o doce de framboesa da nossa infância!
ao descobrir a mistura
do doce de framboesa com o remédio
ficámos calados
depois ouvimos falar da entropia
aprendemos que não se separa de graça
o doce de framboesa do remédio misturados
é assim nos livros
é assim nas infâncias
e os livros são como as infâncias
que são como as pombinhas da Catrina
uma é minha
outra é tua
outra é doutra pessoa
From: Obra
Childhood Memories
We loved raspberry compoteand we were given a dish with more raspberry compote
than usual
but
our maid and our great-aunt
for our own good
because we were sick
had laced the raspberry compote
with spoonfuls of medicine
that tasted bad
the raspberry compote didn’t taste the same
and it had white streaks
this happened to us once and that was enough
we never again jumped up and down when there was
raspberry compote for dessert
we never again jumped up and down for anything
we can’t say
how yucky the medicine from our childhood tasted!
how yummy the raspberry compote from our childhood was!
when we found out about the mixture
of raspberry compote with the medicine
we fell silent
later we heard about entropy
we learned that it’s not easy to separate
raspberry compote from medicine once they’re mixed together
that’s how it is in books
that’s how it is in childhood
and books are like childhood
which is like Catrina’s little doves
one is mine
another is yours
yet another is someone else’s
© 2005, Richard Zenith
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