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Gedicht

Manuel de Freitas

BECHEROVKA

Norwegian, tall, dubiously
dark-haired and forever smiling.
She begged me not to be
sad, as truly I was.
And I think she paid for my last drink
before asking me “what I do”.

Writing, about death, isn’t
exactly a profession.
But that’s what I answered,
while on some napkin or other
I summed up, just for her, my “work”.

I’ll never know if she made out what I scrawled,
if she bought my books, if she heard
what in my dreadful French I tried
to tell her that night, hopelessly lost.

Nearly every poem is this: an inexcusable
way of saying we didn’t touch
the body that for once in our life was so close
and that didn’t even leave us a fleeting name.

BECHEROVKA

BECHEROVKA

Norueguesa, alta, de um moreno
duvidoso que sorria muito.
Pedia-me insistentemente para não estar
triste como deveras estava.
E pagou-me, creio, o último copo,
antes de me perguntar “o que fazia”.

Escrever, sobre a morte, não é
exactamente uma profissão.
Mas foi a resposta que lhe dei,
enquanto um guardanapo qualquer
abreviava, só para ela, a minha “obra”.

Nunca saberei se percebeu a letra,
se comprou os livros, se chegou
a ouvir o que em péssimo francês
lhe tentei dizer nessa noite, a mais perdida.

Os versos são quase sempre isto: um modo
inaceitável de dizer que não tocámos o corpo
que esteve, por uma vez, tão próximo
de nós – e que nem um nome breve nos deixou.
Manuel de Freitas

Manuel de Freitas

(Portugal, 1972)

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BECHEROVKA

Norueguesa, alta, de um moreno
duvidoso que sorria muito.
Pedia-me insistentemente para não estar
triste como deveras estava.
E pagou-me, creio, o último copo,
antes de me perguntar “o que fazia”.

Escrever, sobre a morte, não é
exactamente uma profissão.
Mas foi a resposta que lhe dei,
enquanto um guardanapo qualquer
abreviava, só para ela, a minha “obra”.

Nunca saberei se percebeu a letra,
se comprou os livros, se chegou
a ouvir o que em péssimo francês
lhe tentei dizer nessa noite, a mais perdida.

Os versos são quase sempre isto: um modo
inaceitável de dizer que não tocámos o corpo
que esteve, por uma vez, tão próximo
de nós – e que nem um nome breve nos deixou.

BECHEROVKA

Norwegian, tall, dubiously
dark-haired and forever smiling.
She begged me not to be
sad, as truly I was.
And I think she paid for my last drink
before asking me “what I do”.

Writing, about death, isn’t
exactly a profession.
But that’s what I answered,
while on some napkin or other
I summed up, just for her, my “work”.

I’ll never know if she made out what I scrawled,
if she bought my books, if she heard
what in my dreadful French I tried
to tell her that night, hopelessly lost.

Nearly every poem is this: an inexcusable
way of saying we didn’t touch
the body that for once in our life was so close
and that didn’t even leave us a fleeting name.
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